Lição 12 – 16 a 22 de junho de 2012
Avaliando o Testemunho e o Evangelismo
Pr. Marcelo E. C. Dias
Professor do SALT/UNASP
Doutorando (PhD) em Missiologia pela Universidade Andrews
mecdias@hotmail.com
Professor do SALT/UNASP
Doutorando (PhD) em Missiologia pela Universidade Andrews
mecdias@hotmail.com
I. A medida do sucesso
A avaliação é tão
natural na Bíblia quanto outros princípios de gerenciamento e mordomia, como
levantamento, planejamento e organização. Logo no primeiro capítulo da Bíblia,
Deus dá Seu parecer sobre a obra da Criação afirmando que ela era muito boa
(ver Gn 1:31). Esse princípio de avaliação é aplicado ao povo de Israel e sua
fidelidade a Deus, à resposta das pessoas ao ministério de Jesus, aos líderes
da igreja apostólica e a cada ser humano, em última instância, no juízo final.
No contexto da Igreja, essa prática é evidente no livro de Atos, nas cartas de
Paulo e nas cartas às sete igrejas da Ásia menor, nos primeiros capítulos do
Apocalipse.
Ultimamente, no
entanto, muito se tem discutido sobre qual é a verdadeira medida do sucesso da
igreja. No excelente livro The Measure of Our Success, Shawn
Lovejoy aponta três perigos das maneiras não-bíblicas de avaliação: comparação,
cópia econdenação. Às vezes se mede o sucesso, o sentido de
significância e autoestima única e exclusivamente pelos números. A pergunta
intrigante do autor é sobre avaliar o que realmente importa: multidões
ou conversões? Ele conclui que “encher o auditório é bom; mas encher o Céu
é melhor”. Novos membros são a medida essencial para todas as igrejas, mas
outros aspectos também são importantes.
Em face dessas observações, “em vez de eliminar [as avaliações] (como alguns sugeririam), pensamos que é necessário uma mudança nos critérios. Acreditamos que um dos critérios mais importantes é certificar-se de que homens e mulheres estão sendo transformados pelo poder do evangelho” (Ed Stetzer, Transformational Church, p. 25).
Essa avaliação deveria estar concentrada nos seguintes objetivos:
(1) verificar se a igreja está buscando cumprir seus propósitos,
(2) estimular as iniciativas práticas,
(3) encorajar o reconhecimento e o agradecimento,
(4) promover mudanças e inovações,
(5) facilitar a unidade e cooperação e
(6) promover a espiritualidade.
Diante desse cenário, o indicador mais esquecido da avaliação é aquilo para o qual fomos chamados, como cristãos: amar. Mateus 22:37-39 é uma boa lembrança desse requisito. Jesus Se dirige a pessoas religiosas, conhecedoras das Escrituras. Se o componente básico não existir, nenhum modelo, estratégia, estudo sobre evangelismo e testemunho vai ter efeito a longo prazo. Tudo o que fizermos precisa exaltar Jesus e ser expresso em amor. As pessoas são atraídas por amor, por isso amar as pessoas é a melhor maneira de mostrar para o mundo quem Ele é (The Measure of Our Success).
II. Os propósitos da Igreja
A avaliação do
testemunho e o evangelismo precisa estar inserida no entendimento sobre os
propósitos da Igreja. Não há como avaliar sem saber onde se deve chegar. Uma
forma didática de representar esses propósitos é através das cinco áreas com
base em Atos 2:42-47 sugeridas por Rick Warren (no livro Uma Igreja com
Propósitos):
(1) adoração – amar ao Senhor de todo o coração;
(2) serviço – amar ao próximo como a si mesmo;
(3) missões – ir e fazer discípulos;
(4) comunhão – batizá-los; e
(5) discipulado – ensiná-los a obedecer.
Na tabela abaixo, Warren procura explicar a relação entre os propósitos e a Igreja, descrevendo as tarefas, objetivos, alvos e consequências para a Igreja.
Propósito |
Tarefa
|
Objetivo
|
Alvo
|
Minha vida
|
A Igreja supre necessidades básicas
|
Missões
|
Evangelizar
|
Missão
|
Comunidade
|
Meu testemunho
|
Propósito para a vida
|
Adoração
|
Exaltar
|
Magnificar
|
Multidão
|
Minha adoração
|
Poder para viver
|
Comunhão
|
Encorajar
|
Membro
|
Congregação
|
Meus relacionamentos
|
Pessoas para conviver
|
Discipulado
|
Edificar
|
Maturidade
|
Comprometidos
|
Minha caminhada
|
Princípios para seguir
|
Serviço
|
Equipar
|
Ministério
|
Núcleo
|
Meu ministério
|
Profissão para cumprir
|
Apesar de, na prática,
os propósitos estarem mesclados e se apresentarem através de mais de uma
atividade da igreja, a não ser que se saiba a razão de ser, não há como pensar
em avaliação.
Um alerta importante é dado por Reggie McNeal de que “quando a igreja pensa que é o destino, ela também confunde os critérios. Ela pensa que, se pessoas estão se movendo ao redor e dentro da igreja, ela está vencendo. A verdade é que, quando isso acontece, a igreja está na verdade impedindo as pessoas de ir aonde realmente querem ir: o seu verdadeiro destino” (Transformational Church, p. 26)
III. Dimensões do crescimento integral
Uma Igreja saudável,
que conhece e cumpre seus propósitos, deve se desenvolver e amadurecer, tanto
como membros individuais, como na coletividade. Em vez de se concentrar em um
ou dois índices numéricos, Orlando Costas sugere um modelo com cinco dimensões
de crescimento integral.
(1) A dimensão numérica está relacionada à reprodução resultante da proclamação do evangelho e do convite a se unirem à Igreja. Segundo ele, “o crescimento numérico é parte integrante da visão do que significa ser igreja, especialmente quando a vemos como igreja apostólica e sinal do Reino de Deus na Terra” (Crescimento Integral da Igreja, p. 42).
(2) A dimensão orgânica enfatiza a identidade interna da igreja como um organismo. “Se uma igreja tem como propósito crescer apenas em número, sem se preocupar com a comunhão, o pastoreio e os relacionamentos, ela será tão impessoal e distante que naturalmente ela mesma limitará seu crescimento numérico” (Ibid.) Essa dimensão inclui a forma de governo da igreja, a estrutura financeira, o estilo de liderança, as atividades características e os cultos.
(3) A dimensão conceitual está relacionada à capacidade da igreja de refletir sobre sua fé, sua razão de existir, sua identidade e missão. Essa dimensão abrange o potencial crítico, teológico e capacidade criativa de continuar sendo relevante diante da constante transformação da sociedade e do cenário cultural. “A dimensão conceitual não apenas nos capacita a enfrentar o futuro, como nos ajuda a ser a voz profética no presente, a sermos relevantes para nosso tempo e nação” (Crescimento Integral da Igreja, p. 44).
(4) A dimensão diaconal se preocupa em reproduzir o ministério encarnacional de Jesus, Seu amor redentor apresentado de forma prática e Sua ética em todos os aspectos da vida. “Sem a perspectiva da dimensão diaconal, a igreja perde sua autenticidade e credibilidade, visto que o fato de ser ouvida e respeitada está intrinsecamente vinculado à concretização de sua vocação de amor e serviço ao próximo, bem como sua consequente visibilidade” (Crescimento Integral da Igreja, p. 46).
(5) A dimensão litúrgica está relacionada com o objetivo primário e último da missão (ver comentário da lição 10). A adoração celebra o passado, reconhece o presente e aponta para o futuro – proclamar e experimentar a mensagem.
IV. Qualidades da igreja saudável
Na prática, para que os
propósitos sejam alcançados e resultem em um crescimento integral, se observou
que há oito qualidades que estão diretamente relacionadas. A conclusão da
extensa pesquisa de Christian Schwarz é que o desenvolvimento natural da Igreja
está relacionado a oito características importantes para a saúde da igreja.
1. Liderança
capacitadora: essa qualidade destaca a importância de líderes empenhados
na capacitação dos membros de acordo com a vontade de Deus. Isso envolve a
sensbilidade ao Espírito Santo e o interesse sincero nas pessoas. Equipar,
apoiar, motivar e mentorear os membros da igreja. Fugir de modelos que utilizam
“celebridades” que centralizam tudo em função dos seus talentos, carisma e
posição (ver comentário da lição 9).
2. Ministérios
orientados pelos dons: essa qualidade busca permitir que o Espírito Santo guie a
organização dos ministérios da igreja e a participação individual. Schwarz
compartilha que, segundo a pesquisa, esse fator é o que mais influencia a
sensação de satisfação e alegria de alguém – seu envolvimento segundo o
propósito do Criador (ver comentários das lições 2 e 3).
3. Espiritualidade
contagiante: essa característica está relacionada à maneira de se
expressar a fé no dia a dia através de compromisso, paixão e entusiasmo. O
segredo dessa espiritualidade é uma vida fundamentada na Bíblia, dirigida pelo
Espírito Santo e focalizada no mundo (ver comentário da lição 8).
4. Estruturas
funcionais: Por incrível que pareça, segundo Schwarz, existe uma
confusão em alguns contextos sobre o relacionamento entre as estruturas e a
missão da igreja – a primeira serve à segunda. As estruturas têm o propósito de
organizar, avançar e facilitar a missão (ver comentário da lição 9).
5. Culto inspirador: Essa qualidade
não especifica a liturgia, mas o foco dela. O resultado da presença num dos
cultos da igreja tem que ser o senso da presença de Deus e a motivação para o
testemunho (ver comentário da lição 10).
6. Grupos familiares ou
células: essa
qualidade destaca a importância da dinâmica espiritual entre a pessoa e a
igreja para produzir ajuda prática, comunidade, e interação espiritual (ver
comentário da lição 6).
7. Evangelização
orientada para as necessidades: essa característica está relacionada ao interesse da
igreja nas pessoas. Schwarz fala em orar, cuidar e compartilhar como sendo a
essência do evangelismo relevante (ver comentários das lições 4 e 5).
8. Relacionamentos
marcados pelo amor fraternal: essa qualidade é o que torna a igreja magneticamente
atraente e se aproxima do verdadeiro objetivo divino para a família de Deus.
Schwarz menciona a justiça, a verdade e a graça como expressões práticas do
amor fraternal (ver comentário da lição 7).
Ilustração
A altura, ou crescimento,
é só uma das medidas consideradas quando as crianças estão se desenvolvendo.
Sua relação com o peso é tão importante quanto o crescimento. Afinal, crescer
para os lados demais ou de menos indica falta de saúde. Mas levar em conta
somente esses dois critérios ainda não é o suficiente. Existe o desenvolvimento
dos órgãos internos, dos ossos, das capacidades verbal, psicológica, motora e
espiritual.
Uma observação cuidadosa da história da missão mostra que o sucesso ou fidelidade à missão tomou formas diferentes para pessoas, momentos e lugares diferentes. Em alguns casos, após uma longa vida de dedicação, os “resultados” só vieram nos esforços das gerações seguintes. Em outros casos, o chamado de Deus foi para uma vida longe dos holofotes, e até secreta, preservando a verdade. Em alguns casos, o chamado foi para proclamar a mensagem às multidões nos grandes estádios ou então iniciar um grande movimento de restauração de importantes verdades bíblicas entre o povo de Deus. Todos, no entanto, são chamados para contar o que Deus tem feito em sua vida à sua família, aos seus parentes e àqueles com os quais convivem. E foi por isso que o cristianismo cresceu. Todos são ministérios bem sucedidos.
Na busca pelo sucesso, não nos esqueçamos de viver com fidelidade para que, na avaliação final, ouçamos nosso Senhor dizer: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25:21).
Nenhum comentário:
Postar um comentário