sábado, 28 de julho de 2012

Comentário - Lição 05 "O Exemplo Apostólico"


Lição 5 – O EXEMPLO APOSTÓLICO


Texto – 1Tessalonicenses 2:1-12.

Pr. José Silvio Ferreira
Secretário Ministerial
Associação Paulistana


O tema básico do primeiro capítulo foi a resposta sincera ao evangelho por parte dos conversos de Tessalônica, fato que indicava sua eleição como povo de Deus. Agora, a ênfase muda para a conduta dos apóstolos durante sua estada na cidade.


Todo osegundo capítulo tem um tom apologético. É uma defesa de Paulo diante dosvários ataques sofridos, direcionadosà sua pessoa, sua mensagem, seus propósitos e métodos. Seus acusadores eram judeus “fora da igreja”. Numa tentativa de desfazer a obra, caluniavam os obreiros. “Paulo se defendeu porque sabia que, se os inimigos fossem bem-sucedidos em suscitar desconfiança em relação à integridade do mensageiro, a mensagem teria sofrido morte natural” (Hendriksen).


Cada líder da igreja (especialmente os ministros do evangelho) deve comportar-se de tal maneira que possa fundamentar-se no testemunho dos membros de sua congregação, caso seja atacado caluniosamente.


Ousadia no sofrimento (2:1-2)


Quando uma frase começa com “porque” (a primeira palavra do verso 1), esperamos que se dê uma razão ou explicação de alguma coisa que a antecedeu. Talvez a conexão esteja em 1:9, onde Paulo menciona de forma breve o tipo de visita que teve em Tessalônica. “Porque vós, irmãos, pessoalmente sabeis que nossa estada entre vós não foi em vão”; assim, 2:1 dá uma explicação do caráter da visita que Paulo realizou em Tessalônica – levou a eles o evangelho.


Provavelmente, apenas poucos dias depois de terem sido severamente castigados, humilhados e presos em Filipos (v.2), Paulo e Silas tivessem começado sua obra em Tessalônica. Depois de castigos tão cruéis, impostores não teriam disposição nem coragem para continuar imediatamente sua obra numa cidade próxima. Talvez seja este o mais forte argumento em favor da legitimidade do ministério de Paulo na Macedônia.


O verso 2 termina com a frase “...para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita luta”.“Muita luta”, no grego é “agon”, que indica qualquer forma de conflito ou luta. Dessa palavra é que se deriva nosso termo “agonia”. Nessa luta ou agonia, Paulo foi sempre resistindo, em meio às pressões, anunciando o evangelho sem jamais desistir. Era derrubado, mas não vencido, pois tornava a se levantar para continuar a luta. Tudo isso servia para demonstrar o poder do Espírito Santo, que nele atuava (Champlin, o NT Interpretado).


Os críticos de Paulo se esforçavam para desacreditar sua pessoa, lançando contra ele pesadas e levianas acusações. Havia quem dizia em Tessalônica que Paulo estava “fichado na polícia” e que não era mais que um delinquente que estava fugindo da “justiça”, e que não se podia, de maneira alguma, dar ouvidos a um homem dessa índole (Barclay).


Porém, assim como as trevas não podem prevalecer contra a luz, e a mentira não pode triunfar sobre a verdade, as acusações mentirosas dos inimigos não puderam destruir a reputação do apóstolo. Os conversos de Tessalônica conheciam melhor do que ninguém o que significou “a visita missionária” de Paulo à sua cidade e seus efeitos positivos na vida deles.


Paulo reconhecia que sua “ousadia” não era resultado de algum valor natural, mas provinha de Deus. Os apóstolos estavam pregando “o evangelho de Deus”, e o Senhor mesmo lhes havia proporcionado a confiança e energia necessárias para sua intrépida proclamação (Seventh Day Adventist Bible Commentary, v. 7, p. 240).


O caráter dos apóstolos (2:3)


“Nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo”.


A palavra “exortação” usada por Paulo (paraklasis, em grego), indica um apelo, tendo em vista o benefício dos ouvintes. O termo era utilizado para encorajar soldados antes da batalha, e se dizia que o encorajamento era necessário para soldados pagos (mercenários), mas desnecessário para os que lutavam por sua vida e seu país (Chave Linguística do NT Grego).


Conforme argumenta Howard Marshall, três substantivos são usados para expressar as características que Paulo repudia como sendo incompatíveis com a pregação cristã e com o estilo de vida dos pregadores.


Em primeiro lugar o “engano”. O termo não significa intenção de fraudar, mas ignorância ou erro a respeito da verdade acerca de Deus.


Em segundo lugar, o motivo de Paulo não era “impureza”. A palavra se refere à impureza moral, e Paulo a contrasta com a santidade (veja 4:7). Algumas seitas religiosas gregas se associavam com a prostituição ritual.


“Na mente popular não havia nenhuma conexão necessária entre a religião e os princípios morais. As iniciações, em meio a êxtases, que havia em algumas religiões populares eram grosseiramente sensuais” (Robertson). A acusação seria, então, que Paulo procurava convertidos para se entregar a excessos sexuais com eles.


A terceira característica que Paulo negou taxativamente é a de que agia em “dolo”. O termo grego tem o sentido de “colocar a isca no anzol”. Em outras palavras, Paulo não tentava pegar as pessoas em armadilhas prometendo a salvação, como faz um vendedor astuto para vender um produto desnecessário.


Conhecendo um pouco melhor o contexto e quanto eram graves essas acusações contra Paulo, podemos entender a necessidade e a seriedade de sua defesa. Paulo não empregava métodos desonestos para lograr as pessoas a fim de que acreditassem na sua mensagem, em contraste com alguns pregadores helenistas itinerantes, que não tinham escrúpulos quanto a métodos de ganhar seguidores. O homem que rejeitava até mesmo a eloquência (1Co 2:4) não tinha probabilidade nenhuma de apelar à astucia e ao logro para abordar seus ouvintes.


Portanto, no verso 3, Paulo nega as três acusações. Em seguida, ele põe a verdade em contraste com a mentira (v.4). É próprio do estilo paulino o emprego deste método de argumentar: refutação direta da acusação, seguida de uma declaração positiva (veja 1:5; 2:3,4; 2:5ss).


Agradar a Deus (2:4-6)


“A vida de Paulo foi uma exemplificação das verdades que ele ensinava. Nisso repousava seu poder. Seu coração estava cheio de um profundo e permanente senso de sua responsabilidade, e ele trabalhava em íntima comunhão com Aquele que é a fonte de justiça, misericórdia e verdade. Apegava-se à cruz de Cristo como sua garantia única de sucesso. O amor do Salvador era o permanente motivo que lhe dava a vitória nos seus conflitos contra o egoísmo e em suas lutas contra o mal, ao avançar, no serviço de Cristo, contra o desamor do mundo e a oposição de seus inimigos” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 507).


Aprecio bastante as declarações de Hernandes em seu comentário das epístolas aos tessalonicenses.Escreveuele:


Paulo foi líder por excelência. Seu legado serve de exemplo para líderes ainda hoje. Há pelo menos, três atributos desse líder servo que devem se repetir em nossa vida:

1. O verdadeiro ministro do evangelho não procura conveniências, mas conversões. Em vez de ganhar a vida pelo evangelho, ele está pronto a dar a vida pelo evangelho.

2. O líder espiritual genuíno não busca lucro, mas trabalho. Paulo não foi a Tessalônica para tirar proveito de seus habitantes, mas para legar algo a eles; não para tirar vantagens, mas para doar. Não foi para ganhar dinheiro, mas para ganhar pessoas. Sua motivação não era o lucro, mas a salvação de outros. Paulo terminou sua vida pobre, sozinho e condenado à morte. Porém, nenhum rei, aristocrata, pensador ou filósofo é mais conhecido e estudado na História do que esse extraordinário apóstolo.

3. O líder espiritual não busca aplauso dos homens, mas a aprovação de Deus. Paulo foi um pastor, não um bajulador. Não pregava para agradar a homens, mas para ser aprovado por Deus. Não buscava reconhecimento humano, mas lutava para ser irrepreensível diante de Deus. Um bajulador se empenha em tornar a mensagem atraente para agradar as pessoas. Busca sua glória pessoal, não a de Deus. Está mais interessado em ser amado na Terra do que ser conhecido no Céu, o que não tem nada ver com o estilo de vida do apóstolo.

Afeição profunda (2:7-8)


“O primeiro capítulo de 1 Tessalonicenses mostra Paulo, o evangelista. O segundo mostra Paulo, o pastor, pois explica de que maneira o grande apóstolo cuidava dos recém-convertidos nas igrejas que havia fundado. Paulo considerava “a preocupação com todas as igrejas” uma responsabilidade maior do que todos os sofrimentos e dificuldades que enfrentava em seu ministério” (Wiersbe, v. 6, p. 212).


O verso 7 contém uma expressão, a meu ver, desafiadora especialmente para os líderes da igreja na atualidade: “...todavia nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos”.


Lutero traduz: “temos sido maternais”, o que está em harmonia com essa formosa e comovedora figura.


Imagine um fariseu falando assim para gentios, que eram considerados pelos judeus como cães odiosos, desprezados e alienados! A graça divina transformou Paulo, fazendo-o participar da gentil humanidade de Cristo, bem como das virtudes morais do Espírito de Deus. Você clama a Deus, cada dia, para queEle o transforme dessa maneira?


Cuidar de crianças exige tempo, energia e dedicação. Paulo não entregava seus bebês espirituais às babás, antes, fazia sacrifícios e cuidava deles pessoalmente. Mostrava-se paciente com os novos cristãos. Filhos não crescem instantaneamente. Todos passam pelas dores do crescimento e enfrentam problemas ao longo do processo de amadurecimento. O amor do pastor e dos anciãos pelos “filhos” espirituais deve ser paciente, constante e benigno, como foi o de Paulo.


“No amor de um homem corajoso e fiel, há sempre uma ponta de ternura maternal; ele reitera aqueles raios de proteção afetuosa que lhe foram dados, quando estavadeitado nos joelhos de sua mãe” (George Elliot).


Os tessalonicenses haviam descoberto que os missionários eram afáveis, agradáveis no falar. Eram meigos, afetuosos em seu modo de tratar os outros. O próprio comentário de Paulo sobre a palavra “amável” se encontra no verso 8 (“estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, a própria vida”), no verso 9 (“...noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós”), 11 e 12 (“...como pai a seus filhos, a cada um de vós exortamos, consolamos e admoestamos”).


Temos que recordar sem cessar: todo aquele que quiser se colocar entre os verdadeiros pastores deve amar as pessoas como Paulo as amava, de modo que a salvação da igreja lhe seja mais preciosa que sua própria vida” (Calvino). Que desafio para nós, líderes da igreja no século 21!


Para não ser um fardo (2:9-12)


O carinhoso termo – irmãos (v.9) – se ajusta muito bem. Paulo, Silas e Timóteo se puseram no mesmo nível dos operários de Tessalônica. Todos eles trabalhavam pela sobrevivência material.


A expressão “trabalho e fadiga” se refere ao fato de que os missionários trabalharam“de noite e de dia” (parte da noite e parte do dia). Além disso, ainda pregavam. Deve ter sido muito difícil encontrar tempo para tudo isso. Entretanto, em razão do evangelho de Deus e do amor pelas pessoas, na maioria simples trabalhadores, o peso era suportado com alegria. Fossem eles do tipo dos “filósofos” ambulantes, e os tessalonicenses não teriam sido tratados com tanta consideração.


No verso 11, o simbolismo muda da ternura maternal para a orientação paternal. Paulo, Silas e Timóteo, enquanto permaneceram em Tessalônica, amavam esses irmãos à semelhança de uma mãe que ama e cuida de seus próprios filhos (v.7), e os admoestavam como um pai. Eles tratavam “a cada um [deles]” (v. 11), realizando individualmente a obra pastoral, ensinando-os, explicando-lhes a Palavra de Deus e exortando-os a aceitarem-na pela fé, vivendo sua vida em sintonia com ela. Tinham levado em conta a imaturidade desses crentes, e assim os amaram com ternura. O propósito de toda essa exortação paternal era que os leitores pudessem “andar” (desenvolver sua vida) de maneira digna de seu relacionamento com Deus (W. Hendriksen).


“Os servos de Deus devem ter o maior cuidado com respeito às doutrinas que ensinam, o exemplo que transmitem e a influência que exercem sobre aqueles com os quais se associam. O grande apóstolo apelou à igreja e a Deus para testemunhar a veracidade e sinceridade da profissão desses servos “tanto vocês como Deus são testemunhas”, ele disse “de como nos portamos de maneira santa, justa e irrepreensível entre vocês” (Ellen G. White, Review and Herald, 11 de dezembro de 1900).




O autor dos comentário deste trimestre é o Pr. José Silvio Ferreira, casado com a psicóloga Ellen Ferreira. O casal tem três filhos: Maltom Guilherme, Marlom Henrique e Mardem Eduardo. Doutor em Teologia pelo Unasp, o Pr. José Silvio já trabalhou como distrital, líder de jovens e secretário ministerial, atendendo a igreja nos Estados de Goiás, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, onde atua hoje como Ministerial da Associação Paulistana. É autor do livro Cristo, Nossa Salvação.


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