sábado, 15 de setembro de 2012

Comentário - Lição 12 O anticristo

LIÇÃO 12 – O ANTICRISTO

Pr. José Silvio Ferreira
Secretário Ministerial
Associação Paulistana da IASD
Texto: 2 Tessalonicenses 2:1-12.
Nosso estudo desta semana chega a uma passagem de enorme relevância para o estudioso sincero da Bíblia: O “apocalipse paulino”. Embora não possamos conhecer “o dia nem a hora”, não temos escusas para ignorar os sinais dos tempos, particularmente o sinal referente à grande apostasia dentro da igreja cristã. Esperar a vinda de Cristo exige vigilância constante e conhecimento do desenrolar progressivo da profecia apocalíptica. Discernir os sinais enquanto mantemos toda atenção na vinda do Senhor, revitalizará nossa fidelidade a Jesus.

O esboço apocalíptico da história da igreja que Paulo apresenta na segunda carta aos Tessalonicenses capítulo 2, cumpre propósito semelhante ao de Mateus 24. Não há predição mais explícita acerca da era da igreja em o Novo Testamento. É estranho, mas a maioria dos comentaristas julga esse capítulo uma passagem obscura dos escritos paulinos. Geralmente se reconhece que o propósito do apóstolo nesse texto é dar conselho pastoral para seus dias. A mesma finalidade teve Cristo ao proferir Seu discurso profético.

Essa harmonia de Jesus e Paulo com respeito à apostasia está enraizada diretamente nas profecias de Daniel, em particular, a explicação do anjo intérprete quanto ao capítulo 8, que traz a “visão do contínuo, e da transgressão assoladora” (verso 13). Veja também Daniel 11:31, 32.

Parece evidente que Daniel é a fonte para o ensino do Novo Testamento de que um anticristo blasfemo apareceria durante a era da igreja. Tanto Cristo como Paulo, mencionam que esse apóstata sacrílego seria acompanhado por “sinais e prodígios”. Cristo o conecta com “falsos cristos e falsos profetas” (Mt 24:24); Paulo o associou com o advento do “iníquo”, a quem descreveu como o anticristo escatológico (2Ts 2:9).

Portanto, a conclusão principal é de que “a abominação desoladora” no lugar santo, da profecia de Cristo, e o anticristo pessoalmente assentado no templo de Deus, da profecia de Paulo, são o mesmo fenômeno.

O problema (2Ts 2:1-3)
Lembre-se, mais uma vez, de que o apóstolo estava tentando corrigir o erro da expectativa de que o dia do Senhor poderia ocorrer a qualquer momento. Ele deduziu seu argumento do esboço apocalíptico do profeta Daniel. Na opinião de Paulo, era essencial conhecer a ordem consecutiva dos acontecimentos fundamentais da história da igreja. Esses eventos proféticos, em ordem cronológica são: a vinda do anticristo, depois a vinda de Cristo. Primeiro, “a apostasia” deve se manifestar no “homem da iniquidade”, acompanhado por “sinais e prodígios de mentira”. Somente então Se manifestará o Senhor e destruirá o iníquo.

Contudo, não está em jogo somente a questão sobre o prazo em si: a ideia de que o “dia do Senhor estivesse já perto” (v. 2). Está em jogo o fato de que os tessalonicenses imaginavam as coisas como sendo “simples demais”. Provavelmente, eles pensassem que as perseguições que já estavam suportando fossem “a grande tribulação”. Assim reagiam com avidez à conclusão: em breve nossa aflição dará lugar ao dia do Senhor! Paulo lhes disse: “Não! As coisas não são tão fáceis e banais! É preciso acontecer algo muito mais grave e muito mais difícil. A maturação do pecado no mundo ainda irá atingir um nível muito diferente, chegando à apostasia e ao dominador anticristão do mundo”.

O último remanescente precisa de clareza em relação ao grande tema da Escatologia, porque é precisamente neste ponto que a paixão inflamada se alastra com especial facilidade. O que desequilibrou os tessalonicenses, e o que ameaçou entregá-los a uma agitação incerta?

“O dia do Senhor chegou!”, anunciavam pessoas alvoroçadas na igreja de Tessalônica. “O Espírito comunicou esse fato por meio de profecias! O próprio Paulo também fez esta afirmação! Até mesmo registrou isso em uma carta!” (Leia o verso 2).

Como podemos entender o que aconteceu, e ainda acontece hoje, em muitos lugares? O que abalou tanto os tessalonicenses foi o pensamento errôneo de que a parousia e o arrebatamento já haviam ocorrido e eles tinham ficado de fora! Era uma agitação apaixonada em torno das últimas coisas, comprometendo o senso de verdade e levando muitos à exaltação fanática da opinião pessoal.

A breve resposta de Paulo (2Ts 2:3, 4)
Contrariando tudo isso, Paulo pediu a seus irmãos em Tessalônica que permanecessem no raciocínio sereno e claro, não se curvando precipitadamente diante dos assédios de falsos mensageiros. “Não se deixem abalar nem alarmar tão facilmente, quer por profecia, quer por palavra, quer por carta supostamente vinda de nós, como se o dia do Senhor já tivesse chegado” (v. 2).

Como isso é importante para nós! É consolador, mas também “pesado”, sermos informados de que naquele tempo as primeiras igrejas já precisavam levar em conta que pessoas tentariam “defraudar” a verdade e recorreriam a “todas as maneiras”, inclusive às “devotas”, na tentativa de desencaminhar muitos. Não devemos nos admirar de que essas coisas existam também hoje. É necessário que estejamos mais séria e determinadamente precavidos.

Em seu discurso escatológico (Mt 24), Jesus colocou em primeiro lugar a advertência: “cuidai para que ninguém vos engane!”. Na carta de Paulo isso é repetido de forma quase literal: “ninguém de maneira alguma vos engane” (v.3).

Uma igreja duramente atormentada e sofredora, naturalmente presta atenção quando ouve a notícia de que o dia do Senhor chegou, e em breve toda aflição acabará. Por trás do defraudar e desencaminhar estão poderes sobre-humanos, que justamente agora, nos dias finais, também visam fazer cair os eleitos. É isso que a igreja precisa saber e ponderar. Para o mundo, e para o cristianismo secularizado, prevalece o fato de que, quando a pessoa imagina não precisar mais de Deus e finalmente estar livre de Jesus, justamente então é assaltada de forma súbita e repentina, como um ladrão, pela perdição do grande dia.

É digna de atenção a frase de Paulo “he apostasia” (verso 3), traduzida como “apostasia” na maioria das versões em português. Sempre, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, significa rebelião religiosa, esquecimento do Senhor e de Sua verdade. Essa rebelião é mais que uma transgressão fortuita da lei divina. Essa iniquidade (“anomia”) representa uma rebelião fundamental e contínua contra Deus. Embora já estivesse ativa de forma oculta no tempo de Paulo, a apostasia se desenvolveria finalmente em uma rebelião mundial, uma forma idolátrica de adoração que desafiaria a autoridade da Palavra de Deus.

Outro fato importante a destacar é que Paulo nunca empregou o termo grego “naós”, templo (verso 4) para o edifício do templo em Jerusalém. Posto que sua firme convicção era de que Deus já não morava mais no santuário do monte Moriá, mas entre a comunidade dos cristãos, Paulo considerava a igreja de Deus como o novo templo de Deus (1Co 3:16, 17; 6:19; Ef 2:19-21). Por essa evidência nos escritos de Paulo, podemos concluir que seu emprego normal do termo “templo” (naós), é uma referência não ao judaísmo, mas à igreja cristã. O uso que Paulo fez da linguagem figurada para templo, apoia a ideia de que seu emprego da expressão “templo de Deus” em 2 Tessalonicenses 2:4, se refere à comunidade da igreja cristã do futuro.

O detentor (2Ts 2:5-7)
O apóstolo não insinuou que estivesse revelando alguma verdade nova e assombrosa. Recordou a seus leitores o fato de que já lhes havia ensinado esse “segredo” apocalíptico enquanto esteve com eles (v. 5). Então, destacou “a rebelião” descrita de forma tão dramática, como a falsificação do Messias no livro de Daniel.

Paulo declarou que a manifestação pública do “iníquo” (v. 8) ocorreria somente depois de um desenvolvimento histórico prolongado de forças ocultas que já estavam ativas em seu tempo (v. 7). Ele colocou a revelação efetiva do iníquo imediatamente depois da queda do Império Romano, “aquele que agora o [detiha]”, e indicou firmemente que o mesmo trono ocupado pelo que o detinha seria ocupado pelo homem da iniquidade. A inferência da mensagem de Paulo é inconfundível: quando o Império Romano finalmente caísse, o surgimento do anticristo já não seria restringido nem retido em Roma.

Nos escritos de Paulo o termo “mistério” traz em si o conceito básico de verdade salvadora, mantido anteriormente oculto por Deus, mas agora manifestado no evangelho (Rm 16:25, 26; Ef 1:9, 10). O conteúdo desse mistério é o plano redentor de Deus para salvar a humanidade por meio de Cristo. Por outro lado, quando Paulo falou do “mistério da iniquidade” (v. 7), poderia muito bem ter em mente exatamente o contrário da verdade salvadora de Deus em Cristo, isto é, o mistério caracterizado pelo anticristo. Esse mistério nunca seria inoperante, mas atuaria continuamente desde o tempo de Paulo até o fim.

“Em um estilo paralelo, o mistério da iniquidade, o plano contrário de Satanás, é um propósito diabólico fixo, um ardil contínuo, para se opor à realização do decreto divino da redenção”.

O Anticristo revelado (2Ts 2:8-10)
Volto a destacar o fato de que “o homem da iniquidade” “que se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus”, que por exaltar a si mesmo no templo de Deus está condenado à destruição - é a descrição condensada feita por Paulo acerca do anticristo que se faz passar por Deus em Daniel 7 a 11. Especificamente nos capítulos 7:25, 26; 8:11-13; 11:31, 36-39, 45.

A natureza essencial do anticristo é sua vontade jactanciosa de “mudar” a lei de Deus e os tempos sagrados (Dn 7:25) e mudar a adoração redentora no templo de Deus por seu próprio culto idólatra de adoração (Dn 8:11-13, 25). Portanto, a perspectiva de Daniel, sintetizada por Paulo, representa uma apostasia dupla: uma em relação à lei divina (Dn 7) e outra, em relação ao evangelho e ao santuário (Dn 8). É decisivo compreender que o objetivo do mal não é estabelecer o ateísmo, mas impor uma religião falsificada com um sistema falso de adoração e salvação.

É Jesus, o Cristo que serve, que não busca nada para Si mesmo, que entrega integralmente a vida e a honra, que ocupa na cruz o lugar mais baixo da pobreza e vergonha extremas. Porém, o anticristo representa o mais pleno e desenfreado contraste em tudo! Por isso a igreja possui um padrão claro e seguro para reconhecer, em qualquer lugar, o surgimento do fenômeno “cristão”, ou “anticristão”. Por isso os reformadores já viam claramente no papado romano o anticristo da presente passagem. Tinham razão ao afirmar que as características “anticristãs” se formavam justamente no seio da “igreja”. Lutero e seus associados afirmaram explicitamente que o poder humano em lugar do divino, bem como a rejeição da trajetória da cruz, por parte do catolicismo, introduziram nele um espírito tipicamente “anticristão” (Werner de Boor – Comentário Esperança).

Paulo ainda destacou a natureza religiosa do anticristo como aquele que trataria de autenticar seu culto idolátrico por meio de sinais e milagres sobrenaturais (versos 4 e 9). O anticristo se assentará solenemente no templo de Deus com uma obsessão compulsiva para demandar autoridade divina e usurpar as prerrogativas que pertencem unicamente a Cristo. Por esse engano, forçará a todos os homens a aceitá-lo como o Messias e Senhor.

A declaração de Paulo de que o homem do pecado “se assentará” no “templo de Deus” é de profundo significado. Esse conceito audaz lembra a visão de Daniel, na qual o “Ancião de dias Se assentou” para fazer justiça ao poder arrogante e usurpador. À luz do tribunal divino descrito por Daniel, a descrição de Paulo do adversário “sentando-se como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus”, indica que o anticristo estabelecerá a si mesmo como mestre e juiz dentro da igreja. Note que a predição de Paulo segue a revelação de Daniel do desenvolvimento futuro da história da salvação. Paulo interpretou o esboço de Daniel de acordo com o princípio do evangelho – o cumprimento é em Cristo e na igreja de Cristo.

Verdade e mentiras (2Ts 2:10-12)
É maravilhoso para nós que a “velha” Bíblia tenha predito com tanta clareza o que hoje está acontecendo integralmente.

O anticristo é chamado de “filho da perdição”. Trata-se de uma expressão semita que Cristo também empregou para Judas Iscariotes. “Filho da perdição” significa: “refém inescapável da perdição”. Ainda que ele exalte seu poder de forma assustadora e pareça tão completamente invencível como nenhum outro dominador antes dele, sua ruína é certa e sua causa está de antemão perdida. Disso a igreja pode ter certeza.

Os expositores protestantes desde os dias de Lutero e Calvino têm interpretado tradicionalmente que esse rei que se exalta a si mesmo (Daniel 11:36) e o homem da iniquidade de 2 Tessalonicenses 2:4 são um mesmo indivíduo que se engrandecerá acima de todos os deuses. Não pode ser um ideólogo ateu, porque o homem da iniquidade pretende ser Deus.

Paulo explica que a manifestação histórica do culto religioso apóstata deve acontecer antes da vinda de Cristo. Esse anticristo dominará toda a Terra e todas as nações. No auge da história mundial, a apostasia atingirá proporções e visibilidade “histórico-universais”.

Assim como a revelação de Deus culminou em Cristo, também a manifestação do mal encontrará sua culminação no anticristo cuja aparição é a caricatura satânica de Cristo.

A apostasia anticristã tem por base a hostilidade profundamente arraigada contra o evangelho de Deus e de Cristo. Nesse confronto cósmico, a humanidade deve fazer suas decisões finais em favor ou em oposição a Cristo. Paulo ressaltou que a rejeição da verdade do evangelho preparará a humanidade para o último engano e rebelião (versos 10 e 11). Nesse ponto da maturação do mal, Deus retirará seu Espírito de todos os que desprezam “o amor da verdade para se salvarem”. Como resultado, já não mais haverá nenhuma limitação à “operação do erro para que creiam na mentira” (v. 11).

A aplicação histórica que Paulo faz das visões do anticristo apresentadas por Daniel formam um elo interpretativo indispensável entre Daniel e Apocalipse. Assim como o antimessias de Daniel 8 é destruído repentinamente “não por mão humana” (v. 25); assim como “o rei do norte” é destruído repentinamente sem que ninguém o ajude (Dn 11:45), também o anticristo da descrição de Paulo será destruído pelo esplendor da vinda de Cristo e “e pelo sopro de Sua boca”.

Caro leitor, não se deixe abater porque nuvens sombrias se levantam e raios lampejam no oceano de sua vida. Nosso Capitão nunca perde o controle da embarcação. Ele mesmo anunciou tempestades. Ele mesmo nos conduz ao destino, com infalível segurança. Amém!

Nota: a exposição acima se baseia em material de classe do Mestrado em Teologia, e no livro“How to Understand The End-Time Prophecies of the Bible” [Como Entender as Profecias Bíblicas do Tempo do Fim], de Hans K. LaRondelle.



O autor dos comentário deste trimestre é o Pr. José Silvio Ferreira, casado com a psicóloga Ellen Ferreira. O casal tem três filhos: Maltom Guilherme, Marlom Henrique e Mardem Eduardo. Doutor em Teologia pelo Unasp, o Pr. José Silvio já trabalhou como distrital, líder de jovens e secretário ministerial, atendendo a igreja nos Estados de Goiás, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, onde atua hoje como Ministerial da Associação Paulistana. É autor do livro Cristo, Nossa Salvação.

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